Parece que o Hype Train dos Jogos de Tiro em primeira pessoa (que superam cifras de hollywood) sofreu um arranhão depois do ataque da escola primária Sandy Hook, nos Estados Unidos.
Algumas associações de moradores da região de Newton reagem trocando armas por dinheiro, e outras – mais especificamente da ong “SouthingtonSOS” – coletam voluntariamente discos de Games violentos dos seus moradores para destruí-los. No mesmo caminho, alguns politicos norte-americanos já se movimentam pra tentar impor barreiras de algum tipo na censura para esse tipo de jogo eletrônico.
Sem entrar no mérito da histeria coletiva da NRA e da Fox News, ou de que a natureza do próprio ser humano é ser cruel – como diz Afonso Romano Sant’anna num poema famoso – a questão é que essa “caça às bruxas” parece ter como alvo cada vez mais a ficção e o lúdico, fugindo do fato óbvio de que a pessoa que cometeu o massacre tinha problemas mentais e mesmo assim teve acesso a armas, munição e treinamento para manejá-las.
A vida selvagem em Far Cry 3, segundo Jeffrey Yohalem
Fora desta briga Analógico-físico versus Digital-lúdico o mundo moderno busca um nivel de sofisticação nunca visto antes para cada “nicho” de consumidores.
Por exemplo, o boxe de 12 assaltos, que teve o auge com Muhammed Ali e depois Mike Tyson “evoluiu” na nossa era para o MMA, nada mais do que uma versão humana do Galo de Rinha. O fim ideal não-hipócrita da briga seria sempre a morte do derrotado com um Dedo polegar p\ cima/baixo de um Pedro Bial, Marcelo Tas ou outra personalidade convidada a la Roma antiga – mas não chegamos nesse nivel de “sofisticação” ainda. Num videogame, isso seria aceitável, não?
Na sofisticação dos jogos “best-seller” desta geração, a teia de idéias que envolve os personagens da estória tende a ser muito mais elaborada do que um filme de sucesso da década de 80 ou 90 e, possuindo publico-alvo (jogadores) mais envelhecidos e menos tolerante aos clichês e protagonistas fracos.
Far Cry 3 tem uma estória centrada na violência de um cartel de drogas e no sequestro e tráfico de pessoas, que em alguns momentos lembra o noticiario do leste europeu e conflitos da africa do norte. Jeffrey Yohalem, principal roteirista, disse em entrevistas que a carga emocional do começo do jogo tende a ser intensa para dar motivo ao protagonista, Jason – que você encarna num jogo em 1ª pessoa – aprender a se virar na floresta e buscar vingança contra os donos do cartel instalado no arquipélago de ilhas do jogo depois do resgate dos amigos.
“Seu nome é Buck e ele gosta de …” (citação de Kill Bill Vol.1). Créditos da imagem: Rock,Paper,ShotGun
A complexidade e tensão da estória (incluindo a “marra” do próprio vilão, Vaaz) e os graficos paradisiacos me chamaram a atenção o bastante para comprar o jogo para Playstation 3. O jogo é muito divertido e, deixando um pouco de lado as matanças de animais – que tende a ser cruel, caso você tenha filhos pequenos e algum bicho de estimação em casa – toda a experiência do jogo é relaxante ao ponto de me fazer querer jogar sempre mais para descobrir areas novas da ilha. Modo Cooperativo tambem é divertido, com 4 jogadores simultaneos online ou offline. O Multi-jogador não tive a chance de jogar ainda, mas não sou tão fã de deathmatches online.
“Mensagem do demonio” no videogame
Games e filmes podem ser veia de inspiração de serial killers e sociopatas, mas eu prefiro pensar desse jeito mais racional de ver a coisa:
Playing violent games and enjoying them isn’t the same as enjoying violence. What you’re enjoying is the challenges posed by the mechanics.
— Ian Miles Cheong (@stillgray) December 18, 2012
“Jogar games violentos e se divertir não é o mesmo que gostar de violência. O que está te entretendo são os desafios postos pela mecânica do jogo.”
(E, no fim das contas, ninguem culpou o NatGeo ou os próprios norte-americanos neuróticos com o fim do mundo com seus enormes estoques de comida, armas e munição nos sótãos).
Links externos
- Polygon: Cidade próxima a Newtown coleta e destrói games violentos
- Kotaku: Senador dos EUA quer criar pesquisas sobre o impacto de Jogos violentos sobre as crianças
- Telegraph: Mãe de Adam Lanza era colecionadora de armas e se preparava com estoques pessoais para um colapso da economia